Era como se ela não estivesse ali, o mundo passava por ela de forma dramática, todas as ações dos outros pareciam drásticas demais, e ela se perguntava: Como os seres humanos conseguem viver em paz com tudo isso? A resposta era simples e ela mesma sabia: A maioria não viva em paz.
Todo dia ela ia até a praça da cidade, limpava o pequeno banco azul e se sentava, bem atrás de um arbusto e conseguia o que chamava de “capa da invisibilidade”.
Após um mês de observações ela constatou algumas coisas sobre as pessoas:
Primeira coisa:A maioria das pessoas espera uma falsa humildade dos demais; ela notou isso quando viu um garoto chegar com sua redação para mostrar aos amigos, quando viram o seu dez ficaram logo contentes e perguntaram-no como o conseguiu, o garoto olhou bem para eles e disse:
-Consegui porque sou bom, escrevo muito bem e me dediquei muito
Logo o menino foi chamado de arrogante e egocêntrico.
Engraçado –Pensou a garota- Os amigos no mínimo queriam que o garoto dissesse que foi pura sorte ou obra do acaso. Qual será o motivo que leva as pessoas a quererem acreditar em mentiras?A garota pensou bem e sussurrou:
–Medíocres.
No mesmo dia ela constatou a segunda coisa:
A maioria das pessoas ama mais os outros que a si mesmos, o exemplo para essa constatação chegou assim que o garoto voltou para casa com sua redação, e sem amigos.
Um garoto, parado no banco central da praça olhava, desesperadamente, para o relógio. Parecia contar cada passo do ponteiro e quando, finalmente, olhou para a sua frente achou o motivo da angustia na espera. Uma garota, aparentemente normal, sentou ao seu lado e falou algo que o deixou: Confuso,magoado e arrasado. Assim que ela saiu do seu campo de visão o garoto se derramou em lágrimas, e a observadora ,que se escondia nos arbustos, ficou tão comovida que foi ao seu encontro para perguntar se estava tudo bem
Mesmo sem a ter visto uma única vez ele abriu seu coração, dizendo:
-O que tem de errado comigo? Ela era a pessoa perfeita e eu estraguei tudo, eu deveria ter sido um namorado melhor, ter passado mais tempo com ela, ter comprado aquele colar que ela me pediu…
A observadora se levantou e ia voltando para o seu banco azul, mas antes disse a ele:
-Você só vai amar realmente alguém quando aprender a amar você mesmo.
Quando se viu novamente no banco ela sussurrou:
-Baixa auto-estima
Nos dias seguintes ela viu pessoas agindo normalmente, bem agindo da maneira que a maioria dos seres humanos age, mas duas semanas depois ela notou algo a mais:
Terceira coisa: A maioria das pessoas não suporta a idéia de ficar sozinhas
Era evidente, ninguém ia para a praça para ficar só, parecia que a maioria tinha medo de conhecer a si mesmo, como se fosse algo de gente maluca, e que todos precisassem sempre de alguém ao seu lado: Pra ela não era assim
Foi quando ela virou para o a frente do banco e sussurrou:
-Medo
Foi nesse momento que alguém sentou ao seu lado, isso nunca tinha acontecido antes ,e lhe abriu um grande sorriso dizendo:
-Você não precisa ter medo, eu estou aqui e posso te ajudar
Ela o olhou nos olhos, preparada para dar sua pior resposta, mas não conseguiu, os olhos dele eram de uma verdade comovente.
-Eu não estou com medo, é que eu venho todos os dias e sento nesse banco para observar as pessoas…
Ele parecia muito interessado quando a perguntou:
-E faz parte do seu plano ficar falando sozinha?
-Não, eu apenas digo as minhas conclusões rápidas sobre o que eu vejo
-Hmmmm, e o que você já disse?
-Medíocres, Baixa auto-estima e medo.
-Você está se referindo a todos então
-Não acho que seja assim
-Sério? Eu me enquadro em todas essas palavras, você não?
-Não! Bem…Sim, não sei, nunca parei para me observar
-E qual seria o motivo?
-Eu sempre estive do lado de fora.